Executiva demitida pelo Santander diz na Justiça que PT “exigiu” sua saída Responsabilizada por email que alertava clientes sobre “riscos” da reeleição de Dilma, Sinara Polycarpo nega ligação com mensagem e cobra da instituição financeira o emprego de volta e indenização por danos morais e materiais

A executiva demitida do Banco Santander após divulgação de uma mensagem eletrônica em que alertava clientes de alta renda sobre os “riscos da reeleição” da presidente Dilma entrou com ação na Justiça do Trabalho contra a instituição financeira. No processo, Sinara Polycarpo Figueiredo nega ligação com o email cuja autoria é atribuída a ela, diz ter sofrido perseguição do PT, pede o emprego de volta e uma indenização milionária por danos morais e materiais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a reportagem de Fausto Macedo, Sinara cobra indenização de 200 vezes o valor de sua remuneração mensal, que era de cerca de R$ 50 mil, já acrescidos os bônus. O que daria algo em torno de R$ 10 milhões.

Sinara perdeu o emprego no final de julho, após a polêmica de uma correspondência enviada eletronicamente a clientes do Santander com renda superior a R$ 10 mil. Conforme o texto, a eventual reeleição da presidente pioraria o quadro econômico no país. O caso ganhou grande repercussão e suscitou críticas de Dilma, do ex-presidente Lula e de aliados. Segundo a mensagem impressa na última página do extrato de clientes da categoria “Select”, com renda mensal superior a R$ 10 mil, a subida de Dilma nas pesquisas de intenção de voto traria elevação dos juros e na cotação do dólar e queda na Bolsa.

De imediato, o presidente mundial do Santander, o espanhol Emilio Botín, que morreu em setembro, desculpou-se publicamente com a petista. Três funcionários foram demitidos, sob a alegação de que cometeram um “erro” com a divulgação do boletim, considerado pelos integrantes da campanha de Dilma uma tentativa indevida de uma instituição financeira estrangeira de influenciar o processo eleitoral no Brasil.

O banco negou, na época, ter cedido a pressões políticas ao demitir os funcionários. “O texto feriu a diretriz interna que estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas, sem qualquer viés político ou partidário”, disse o Santander na ocasião por meio de nota.

Superintendente de Consultoria de Investimentos Select do Santander na época, Sinara foi responsabilizada como autora do texto. Segundo o Estadão, na ação distribuída para a 78.ª Vara do Trabalho de São Paulo, a ex-superintendente afirma que não tinha conhecimento da mensagem e que o texto não foi submetido à sua revisão. Ela diz que o email foi encaminhado por uma analista financeira “diretamente ao Departamento de Marketing que tomou as providências de remessa aos clientes”.

Sinara alega que tomou conhecimento da carta elaborada em nome da instituição financeira “somente 15 dias após, quando um dos clientes reclamou em resposta do teor da opinião do banco”. De acordo com a ex-superintendente, o PT, por meio do ex-presidente Lula e do presidente do partido, Rui Falcão, exigiu em manifestações públicas a demissão dos empregados envolvidos no episódio.

“Houve imediata subserviência do banco às forças políticas, com publicações de carta pública na imprensa negando ser do reclamado (Santander) o entendimento constante do texto elaborado por sua analista, aceitando, inclusive, o clamor político partidário”, escrevem os advogados Rubens Tavares Aidar e Paulo Alves Esteves, que representam Sinara. Segundo eles, o Santander “cedeu o poder de comando do empregador ao PT, de modo tão servil que o próprio presidente do partido foi o arauto para a imprensa de que os empregados do setor seriam demitidos”. Os advogados ressaltam que Sinara não teve qualquer participação no caso. Procurados pelo Estadão, o Santander e o PT disseram que não se manifestam sobre o assunto

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