Grampo da PF sobre fraude em SC pega genro de Lula e deputado do PT

Marcelo Sato e Décio Lima não são alvos do inquérito, mas aparecem em diálogos com empresário sob suspeita
Marcelo Sato, genro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caiu no grampo da Influenza, investigação da Polícia Federal em Santa Catarina sobre suposto esquema de fraudes e lavagem de dinheiro no Porto de Itajaí. Sato aparece em conversas telefônicas com o empresário Francisco Ramos, o Chico Ramos, sócio-controlador da Agrenco do Brasil S/A e principal alvo da operação. Casado com Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do presidente, Sato não é investigado pela PF, mas as interceptações sugerem seu empenho em atender demandas de interesse do executivo junto a órgãos públicos federais. Dia 18 dezembro de 2007, às 15h42, os dois se falaram e a PF gravou. Ramos liga para Sato e diz que "precisa de um favor". O empresário quer um atalho para colocar na pauta da Agência Nacional do Petróleo (ANP) seu projeto para uma fábrica de biodiesel. Ramos explica que o processo "está na área jurídica" da agência e pede a Sato que faça um "pedido especial". O genro do presidente se prontifica: "Estou ligando agora." A malha fina também pegou o deputado Délio Lima (PT-SC), ex-superintendente do Porto de Itajaí de janeiro de 2005 a março de 2006. Duas vezes prefeito de Blumenau, Lima é candidato novamente ao cargo. A mulher de Décio, Ana Paula Lima, é deputada estadual, líder da bancada do PT na Assembléia. Sato trabalha no gabinete de Ana, em Florianópolis. Dia 1º de abril, às 11h25, Ramos telefona para o parlamentar e diz que tem um "documento pendente na Receita": "Para a gente poder se qualificar e vender biodiesel no leilão", continua. Ele diz que "tá apavorado". Décio pede que lhe seja transmitido e-mail "para entender direitinho com quem tem que falar". Chico Ramos teria bancado hospedagem em hotel para Sato e vôos fretados para o deputado, além da aquisição de notebooks. O deputado, assim como Sato, não é alvo da Influenza. Ambos foram interceptados involuntariamente pela PF, que seguia os passos de Ramos escorada em ordem judicial. O monitoramento incluiu e-mails, como um de 24 de outubro, do gabinete do deputado para Ramos. "Assunto: audiência ANP", anuncia o texto capturado pelos peritos no HD do computador do empresário. Não há nos autos nada que incrimine Sato e Décio com a trama de operações cambiais ilegais, ocultação de bens, licitações fraudulentas, movimentações financeiras por laranjas e simulação de transações comerciais com emprego de papéis forjados. Mas a escuta federal mostra que eles fazem parte do círculo de amizades e influências do empresário que teria sido o mentor do esquema. A Influenza foi desencadeada em 20 de junho - 250 policiais e 33 auditores fiscais cumpriram 54 mandados de busca em Santa Catarina e São Paulo. Foram capturados 24 suspeitos com quem o arrastão da PF apreendeu 31 veículos de luxo, 3 armas, R$ 255 mil , US$ 22 mil e 4 mil euros, além de 200 quilos de documentos. DOADORA O objetivo central da missão é a Agrenco, conglomerado especializado na exportação e comercialização de produtos agroindustriais. A Agrenco é freqüente doadora de políticos. Nas duas últimas eleições, em 2004 e em 2006, injetou R$ 1,1 milhão no caixa de candidatos de partidos diversos. Na campanha de Décio Lima por uma cadeira na Câmara, há dois anos, o grupo repassou R$ 179,9 mil, segundo consta da prestação de contas do petista ao Tribunal Superior Eleitoral - o montante total das receitas de Décio foi a R$ 452,9 mil. O inquérito Influenza nasceu em Itajaí, onde os federais identificaram crime organizado e sonegação de tributos. Em agosto do ano passado, o juiz estadual Paulo Afonso Sandri autorizou os grampos, acatando pedido do delegado PF Roberto Mário da Cunha Carneiro. Em novembro, a investigação apontou prática de lavagem de dinheiro e, por isso, foi deslocada para a Justiça Federal onde funciona vara exclusiva para combater esse tipo de delito. Na semana passada, a Justiça Federal esticou em mais 45 dias o prazo para conclusão do procedimento.

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