Maior fabricante de armas do Brasil, Taurus se prepara para guerra contra a dívida

SÃO PAULO - As coisas não estão fáceis para a Forjas Taurus (FJTA4). A maior fabricante de armas do Brasil e uma das maiores do mundo, a empresa sofre com resultados negativos que levaram uma desvalorização de 80% das suas ações no ano. No entanto, o novo diretor-presidente da companhia, André Balbi, garante: a companhia é um bom investimento para o futuro.
No começo do ano, a Forjas trocou sua administração depois de uma guerra com os minoritários por conta da revisão do balanço de 2012, que foi de um lucro de R$ 41,9 milhões para um prejuízo de R$ 117,2 milhões. A revisão foi feita após denúncias de irregularidades no registro da venda da subsidiária Taurus Máquinas-Ferramenta para o grupo SüdMetal. Segundo os minoritários, o ex-presidente do conselho e, na época, maior acionista da companhia, Luis Fernando Costa Estima, de tentar impedir os trabalhos de comitê independente que avaliava o papel dos administradores no negócio.
A reviravolta no cenário da empresa veio em maio, quando Luis Estima vendeu 3,8 milhões de ações da Forjas Taurus, representando 8,5% do capital social com direito a voto da companhia. A saída de Estima, que no dia 21 de novembro renunciou ao cargo de membro no conselho de administração, coincidiu com a entrada em peso da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), que elevou sua participação na fabricante de armas para 52% do capital volante e se tornou o novo controlador.

No começo do ano, a Forjas trocou sua administração depois de uma guerra com os minoritários que levou, inclusive, a uma revisão do balanço de 2012 (Getty Images)
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Contudo, a situação não é tão simples, uma vez que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) ainda precisa julgar a união das duas empresas em vista de dois produtos que ambas fabricam (um colete a prova de balas e uma carabina calibre 12) e que poderiam fazer com que elas fossem consideradas concorrentes. Portanto, os direitos políticos da CBC na Taurus estão suspensos até o julgamento do Ato de Concentração.
Mudanças
Depois da entrada da nova diretoria, os erros da administração antiga começaram a aparecer e revelaram que a relação entre endividamento líquido e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização na sigla em inglês) dívida ficou em 14,8 vezes nos nove primeiros meses de 2014. Por essas e outras, André Balbi, o novo diretor-presidente, decidiu fazer um esforço de guerra para pagar a dívida da empresa, renunciando inclusive ao pagamento de dividendos em 2015.
Para voltar a apresentar mais receitas que despesas e realizar esse objetivo de reduzir o endividamento, a companhia já demitiu mil funcionários e revisou a sua linha de produção, abandonando o modelo que Balbi criticou como muito complexo e "artesanal" para algo mais parecido com o que é praticado pelas grandes montadoras. "Já eliminamos R$ 55 milhões de custo", disse o presidente, durante reunião Apimec realizada junto a analistas e investidores em São Paulo na última quinta-feira (18).
Expandir além de BR e EUA
A Taurus também já procura novos mercados para desovar sua produção. "Nós estivemos fora dos enormes mercados da África e do Oriente Médio por muito tempo", afirmou o diretor-presidente. Atualmente 46% da produção da Taurus fica com o mercado brasileiro, 40% com o norte-americano e os outros 14% com os demais países do mundo. A ideia é vender para mais países, com perspectivas melhores e uma demanda maior por armas. "Hoje a África responde por 3% do nosso faturamento, queremos chegar a 10%", disse o diretor vice-presidente de vendas e marketing, Eduardo Moretti.
Todo o esforço é pouco para fazer o faturamento da empresa voltar para o patamar de R$ 800 milhões nos próximos trimestres. Com uma rolagem da dívida avaliada em R$ 200 milhões para o ano que vem, mais do que uma possibilidade de crescimento, é uma questão de sobrevivência para a fabricante aumentar suas receitas, que ficaram em R$ 123,6 milhões no terceiro trimestre de 2014.
"Nunca deixamos de pagar nada"
Diante desse quadro, a diretora de Relações com Investidores da Forjas Taurus, Doris Wilhelm, tranquiliza os acionistas, explicando que as últimas emissões de debêntures foram feitas a taxas bastante "interessantes" - CDI (Certificado de Depósito Interbancário) + 3,25% - e a empresa possui boas alternativas de capitalização.
"Temos ainda um caixa suficiente para fazer frente aos próximos meses da companhia", avalia. Balbi concorda e afirma: "nós nunca deixamos de pagar absolutamente nada [...] se tudo o que nós estamos fazendo der certo, a dívida é pagável".
Barsi acredita nela, e você?
Pelo menos um motivo de peso para acreditar na Taurus os investidores têm. Luis Barsi, um dos maiores investidores pessoa física da Bovespa, é um dos acionistas dentro do bloco da empresa. Para ele, a Taurus sofreu um "impacto de gestão" e que crê na reversão dos resultados negativos no futuro.
"Ao preço de R$ 0,32/0,33, é cotação de empresa quebrada, o que não é o seu caso. Interpreto que nas bases atuais é uma opção muito atrativa de aplicação", explicou. No começo do ano, Barsi escreveu um relatório explicando os sete motivos que o fez encarteirar as ações da Taurus em carteira.

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