Caso Romário/BSI volta à tona e Rodrigo Janot tem obrigação de investigarInternautas perguntam ao senador: cadê o parecer do Ministério Público da Suíça? Por: Felipe Moura Brasil 26/11/2015 às 20:06


Atualizado às 22:20.
A revista VEJA publicou em julho um documento em que o senador Romário aparece como titular de uma conta na Suíça.
Eu, Felipe Moura Brasil, colunista, sem ligação com a matéria original, comentei aqui em agosto:
“O BSI, comprado por 1,7 bilhão de dólares no ano passado pelo brasileiro BTG Pactual, de André Esteves, tem total interesse em tentar demonstrar que não permitiu o vazamento de informação sobre a conta de um cliente. Qualquer vazamento para um banco é trágico e os suíços vivem dos segredos dos milionários que lá escondem sua grana.
Acontece que meros pronunciamentos de Romário e do BSI sobre a inexistência da conta não provam a falsidade do extrato, nem que ela nunca existiu.
Servem, no entanto, para proteger a imagem do senador e do banco entre aqueles que sentem necessidade de tomar posições antes que os fatos sejam devidamente esclarecidos.”
Agora André Esteves está preso.
Este simples fato já seria suficiente para despertar desconfiança sobre o que ele é capaz de fazer para proteger um banco que comprou.
Como o Ministério Público Federal o acusa de ter tentado comprar o silêncio do já condenado Nestor Cerveró a fim de proteger exatamente o seu banco e a si próprio, a desconfiança aumenta ainda mais.
Mas não para por aí.
O “estranho diálogo” contido na gravação que resultou nos mandados de prisão contra André Esteves, o senador petista Delcídio Amaral e seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, além de Edson Ribeiro, advogado de Cerveró ainda foragido nos EUA, “parece reabrir o caso”, como diz VEJA na matéria “A história de um retrato”, publicada nesta quinta-feira (26).
A conversa foi gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras.
Eis o trecho sobre o caso Romário:
EDSON RIBEIRO – Ué, fizeram acordo, né?
DELCÍDIO DO AMARAL – Diz o Eduardo que fez.
RIBEIRO – Tranquilo. Foi Suíça.
DELCÍDIO – Foi?
RIBEIRO – Tinha conta realmente do Romário.
BERNARDO CERVERÓ – Tinha essa conta?
DELCÍDIO – E em função disso fizeram acordo.
RIBEIRO – Tinha dinheiro no banco que foi encontrado. Tira, senão você vai preso.
DELCÍDIO – O que eu achei estranho foi ele (Eduardo Paes). Eu disse: Romário, o que você está fazendo aqui? E ele me disse: Eu estou acompanhando o Eduardo.
RIBEIRO – Esquisito né? Essa é a informação que me deram.
DELCÍDIO – (Com) o Eduardo eu tenho intimidade, principalmente na CPI dos Correios (presidida por ele, tendo Paes de sub-relator). Ele era meu braço direito na CPI. Ele me disse: – Não, Delcídio. Eu chamei o Romário, disse na frente do Romário, nós acertamos uma aliança para o Romário apoiar o Pedro Paulo (candidato de Paes a sua sucessão na prefeitura do Rio de Janeiro) Mas tem esse motivo, é? Não é possível o que aconteceu. Quando eles chegaram, eu disse: – O que vocês estão fazendo aqui, juntos? Daí o Eduardo explicou que fizeram uma composição. Daí eu fui fazer uma foto e eles fizeram juntos com as mãos.
A conversa acima vem logo em seguida à explicação que Delcídio dá aos demais sobre o seu atraso para o encontro.
Na gravação, como contextualiza a VEJA, “Delcídio diz que recebeu em seu gabinete no Senado o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, seu braço-direito, Pedro Paulo Carvalho, e Romário no dia 4 de novembro. O primeiro à esquerda na foto é o senador Ricardo Ferraço”.
acordo-original
Ferraço, Paes, Delcídio, Romário e Pedro Paulo: o senador se uniu ao candidato de Paes dias DEPOIS da revelação de que Pedro Paulo agrediu a ex-mulher
A VEJA continua:
“Quando se junta o diálogo com a fotografia, o que se depreende da situação é que os presentes falaram com certo espanto de um ‘acordo’ político que teria sido feito entre Paes e Romário (ele desistiria de sua candidatura à prefeitura do Rio e apoiaria o candidato de Paes) ’em função’ da conta do ex-craque no banco suíço BSI – comprado em 2014 pelo BTG Pactual, de André Esteves, também preso”.
“A reunião em que mãos superpostas celebraram o acordo ocorreu no dia 4 de novembro passado. A reportagem de VEJA foi publicada em julho. O desmentido de Romário e do BSI vieram no começo de agosto. VEJA se desculpou com Romário pelo seu site no dia 5 de agosto e, na revista impressa, na edição com data de capa de 12 de agosto.
Que força teria o prefeito Paes, três meses depois desses eventos, para pressionar Romário? A resposta a essa pergunta, até que mais fatos sejam conhecidos, só pode ser respondida no terreno da lógica especulativa. Guilherme Paes, irmão de Eduardo Paes, é sócio do BTG, o banco que comprou o BSI, que emitiu nota desmentindo a informação de VEJA sobre a conta de Romário.
Paes poderia ter convencido Romário a fazer o acordo usando como mecanismo de pressão a ameaça de se valer do irmão para revelar que a conta do ex-craque na Suíça efetivamente existe ou, pelo menos, existiu? É uma especulação lógica. Também o seria admitir que Paes pode ter falado da descoberta de outras contas de Romário na Suíça – não necessariamente aquela que deu ensejo à reportagem de VEJA em julho.
Romário usou sua página no Facebook para se manifestar sobre os diálogos gravados pelo jovem Cerveró”.
Eu, colunista, lembrando que contestar argumentos e cobrar transparência não são o mesmo que acusar alguém de qualquer crime, comento ambas as frases de Romário citadas na matéria de VEJA:
1) ‘O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. (…)
Quando Romário diz que “o assunto” (termo genérico) já foi esclarecido por “autoridades” (termo genérico) “brasileiras e suíças” (é mesmo?), ele encobre os fatos que realmente vieram a público, não sem distorcê-los no fim.
Banco suíço não é nem nunca foi “autoridade” no sentido que a frase do senador transmite.
Autoridade seria o Ministério Público da Suíça para o qual o BSI simplesmente disse ter encaminhado um pedido de abertura de investigação sobre o suposto extrato que alegou ser falso. Esse pedido feito pelo banco, sim, veio a público.
Nele, o BSI apontou que “pode estabelecer com certeza que o extrato da conta é falso e que o sr. Romário de Souza Faria não é, portanto, titular de dita conta em nosso banco na Suíça”.
O banco – onde quatro contas já foram bloqueadas a pedido da Lava Jato, incluindo uma de Eduardo Cunha – não falou se Romário é ou não titular de alguma outra conta da instituição nem se já teria sido correntista no passado.
O MP suíço, por sua vez, nem sequer confirmou publicamente ter recebido o tal pedido.
A hipótese de que o pedido tenha servido apenas como uma cortina de fumaça temporariamente bem-sucedida, sem ter chegado ao seu suposto destino, não pode ser descartada por qualquer analista que faz especulação lógica em cima dos fatos disponíveis.
Internautas desconfiados estão cobrando explicações de Romário sobre o caso e, numa das respostas, ele afirma: “Tenho pareceres dos dois ministérios públicos (Suíça e Brasil) que não tenho conta na Suíça”.
Nenhum desses supostos pareceres veio a público.
O MP brasileiro, onde foi protocolado o suposto extrato em julho, declarou apenas que Romário não estava sendo investigado. Isto quer dizer apenas que nenhuma investigação foi iniciada, não que o senador não tem, ou teve, conta na Suíça.
Quando uma internauta pede que Romário publique o suposto parecer do MP suíço, Romário não responde mais.

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