Como Romário dribla a verdadeVeja a lista de contradições que despertam a desconfiança do público Por: Felipe Moura Brasil 29/11/2015 às 14:03

1) Romário dizia: “Fui à Suíça e o banco admitiu que nunca tive vínculo com eles”. O fato: BSI, parte interessada em mostrar que não permitiu vazamento de dados do cliente, apenas divulgou uma carta alegando que Romário “não é o titular dessa conta”.
2) Romário, portanto, alegava: “nunca tive vínculo” com o BSI. Na sexta-feira (27), disse ao Globo: “Quando jogava na Europa, tive conta no BSI, só não lembro o ano”.
3) Romário dizia – em vários posts – ter um parecer do Ministério Público suíço dizendo que ele não tem a conta referente ao extrato (ou “screen shot”) revelado em julho por VEJA, mas o MP da Suíça nunca emitiu qualquer documento sobre o assunto, como confirmou O Globo. A assessoria de Romário disse ao jornal na sexta que ele tem apenas um documento do BSI dizendo que não tem a conta.
4) Romário dizia – em vários posts – ter também um parecer do MP do Brasil sobre não ter a conta na Suíça, mas PGR afirmou apenas, em agosto, que não tinha nenhuma investigação aberta sobre eventual conta secreta.
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Romário MPs print 3
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5) Questionado pelo Globo “quando a conta”, que ele agora diz ter tido no BSI, “foi fechada”, Romário disse: “Não lembro. Mas, se tem conta no banco e não movimenta, acho que fecha automaticamente”.
A declaração é “automaticamente” risível, sobretudo considerando que Romário foi ao próprio BSI na Suíça após a reportagem de VEJA para verificar, segundo ele, se tinha a conta relativa ao extrato (ou “screen shot”) revelado pela revista.
Que o banco, supostamente consultado a respeito, não o tenha informado sobre a conta que Romário agora diz ter tido, e que o senador nem sequer se lembre quando ela foi fechada nem por qual motivo, é pura historinha que pode até enganar trouxa no Facebook, mas aqui não passará.
6) Depois que Delcídio do Amaral e seu advogado indicaram na gravação secreta de Bernardo Cerveró que Romário tem acordo com o prefeito Eduardo Paes para apoiar seu candidato à sucessão, Pedro Paulo, Romário afirma que não tem acordo com ninguém. Contudo:
a) A foto do encontro com Paes e Romário, citado por Delcídio, mostra o gesto típico de celebração de acordo, no dia 4 de novembro, mesmo após a revelação de que Pedro Paulo batia na ex-mulher.
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Ferraço, Paes, Delcídio, Romário e Pedro Paulo: mãos sobrepostas têm significado, senador
b) Aécio, ciente de que o mar não está para peixe, cancelou encontro que teria com Romário para tratar de uma frente de candidatura à prefeitura do Rio em 2016.
Lauro Jardim informa: “O PSDB nunca teve dúvida de que havia um acordo entre ele e Eduardo Paes para apoiar o candidato do PMDB.”
A Época confirma: “ligação de Romário” com Paes, tratada na gravação, “desanimou Aécio. Além disso, Romário ainda terá de explicar imbróglio envolvendo a existência – ou não – de conta na Suíça – e isso poderá gerar desgastes a sua imagem”.
Já gerou. Até a TV Record fez reportagem sobre o caso: “Romário pode ter recebido ajuda de banco e Eduardo Paes para tirar conta do exterior”.
Romário acordo print 2
Romário acordo print 1
7) Romário dizia que “já está mais do que provado” que não tinha a conta e “já provei tudo que precisava provar”, mas agora diz que vai “provar de novo” – ou seja: como este blog afirma solitariamente desde agosto, Romário nunca provou.
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8) VEJA publicou: “No mesmo dia em que deu a entrevista confirmando que teve conta no BSI, Romário enviou ofício ao procurador geral, Rodrigo Janot, pedindo que apure junto ao Ministério Público suíço os fatos relativos à ‘suposta conta’. Nem precisava. A Procuradoria Geral da República já anunciou que vai apurar não só a ‘suposta conta’, mas ‘todos os fatos’ relativos à história. VEJA, por seu lado, também continua empenhada na apuração profunda do episódio.”
Eu, colunista, pondero: se a PGR já havia decidido investigar o caso, como disse VEJA e mostrava a reportagem do Globo na mesma página da entrevista, Romário pode ter pedido a investigação só para posar de transparente.
A propósito, outra questão fica no ar:
O dono de um banco, se quisesse fingir que não permitiu vazamento de dados de cliente, teria meios de apagar todo e qualquer rastro da existência de uma conta? Ou os MPs de dois países, atuando em cooperação, conseguiriam rastreá-la?
9) Questionei no post anterior se Romário já teria mandado um emissário para falar na prisão com André Esteves, dono do BTG Pactual que comprou o BSI em 2014. Mas nem precisa. O advogado do banqueiro é o mesmo de Romário: Antonio Carlos de Almeida, o famigerado Kakay (foto).
Kakay deu entrada no STF com uma petição para libertar o banqueiro, cuja prisão temporária termina na noite deste domingo. Será que Romário agora está na torcida?
KakayAtoCruz
Alô? André?
10) Repito: as merecidas glórias de Romário no futebol não o eximem da vigilância que sociedade, imprensa e autoridades devem ter sobre poderosos senadores da República.
Todas as contradições listadas acima foram apontadas em primeira mão por este blog e, até agora, Romário não se explicou nem se retratou publicamente por nenhuma delas.
Como diria o próprio senador: “uma nova resposta deve ser dada a todos os brasileiros”. Depois de tantos dribles à verdade, eles já estão mesmo desconfiados.
11, o número do craque) Se a PGR conseguir efetivar a denúncia a tempo de manter preso André Esteves, a eventual delação premiada do banqueiro poderia resultar numa das mais animadas pescarias da história.

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