Órgão da Fazenda aponta movimentação milionária de Lula, Palocci e Erenice, diz revista 31/10/2015 11h20 FOLHAPRESS Atualizado em 01/11/2015 às 23h04 Texto publicado na edição impressa de 01 de novembro de 2015
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência financeira vinculado ao Ministério da Fazenda, aponta que contas ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro Antonio Palocci e à ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra movimentaram cerca de R$ 294 milhões. As informações foram publicadas pela revista Época na edição divulgada nesta sexta (30).
Segundo a publicação, o documento de 32 páginas identifica movimentações incompatíveis com as respectivas rendas daqueles ligados às contas: Lula (R$ 53,6 milhões, de 2011 a 2014), Palocci (R$ 216 milhões, de 2008 a 2015) e Erenice (R$ 26,3 milhões, de 2008 a 2015). O relatório foi entregue à CPI do BNDES, que investiga contratos considerados suspeitos assinados pelo banco de 2003 a 2015, nos governos do PT.
Em agosto, a revista Veja, também com base em relatório do Coaf, revelou que a empresa do ex-presidente, LILS Palestras e Eventos, recebeu R$ 27 milhões de 2011 a 2014, sendo R$ 9,8 milhões de empreiteiras investigadas no escândalo da Petrobras.
Segundo a Época, a movimentação total da empresa no período foi de R$ 52,3 milhões. Parte da receita foi repassada a pessoas próximas e investida em plano de previdência privada (R$ 6,2 milhões).
Em resposta à reportagem, o Instituto Lula divulgou nota neste sábado (31). Segundo a entidade, a revista “especializou-se em distorcer e manipular documentos, muitos deles vazados de forma ilegal, para difamar e caluniar o ex-presidente Lula”. A equipe do ex-presidente afirma que o tratamento dado ao relatório do Coaf não passa de uma construção de “ilações”.
“A revista não tem interesse em entender ou reportar os fatos de forma fiel, quer apenas construir ilações. Não tem o que se chama de jornalistas investigativos: são apenas redatores sensacionalistas, operando documentos vazados ilegalmente. Não apresenta fatos, quer apenas especular e fazer barulho em cima de tais documentos, tentando criar factoides políticos, vender mais revista e fazer audiência em redes sociais”.
O Instituto também diz que “o relatório do Coaf, vazado criminosamente para ‘Veja’” em agosto, foi “requentado pela ‘Época’”, e que “não há nada de ilegal na movimentação financeira do ex-presidente”.
Palocci
Já empresa Projeto, de Palocci, recebeu R$ 53 milhões a partir de junho de 2011, quando deixou a chefia da Casa Civil do governo Dilma Rousseff (PT) após a Folha ter revelado que seu patrimônio multiplicou por 20 em quatro anos ao atuar como consultor privado. Ele defendeu as atividades como “legítimas relações comerciais”.
Do total, R$ 4,7 milhões são oriundos da Caoa, montadora e revendedora de veículos investigada na Operação Zelotes sob suspeita de envolvimento com suposto esquema de compra de medidas provisórias. Investigadores apontam o pagamento de propina relacionado à MP 471 -aprovada pelo Congresso no fim de 2009-, que prorrogava incentivos fiscais de R$ 1,3 bilhão por ano para montadoras.
Em julho deste ano, reportagem da Folha apontou, segundo informações do Coaf, que a empresa de consultoria do ex-ministro faturou R$ 34,9 milhões entre 2007 e 2010, época em que ele exercia o mandato de deputado federal. A Projeto foi contratada por 60 clientes de diferentes setores da economia, como firmas de planos de saúde, de alimentação e incorporadoras de imóveis.
Naquele mês, a Caoa afirmou à Folha que Palocci prestou consultoria “em dois períodos, de 2008 a 2010 e de 2012 a 2013, nas áreas de planejamento estratégico, econômico, financeiro e de relações internacionais. Por política interna, a Caoa não comenta detalhes sobre contratos”.
Segundo a assessoria de imprensa de Antonio Palocci, a matéria da revista Época traz informações mentirosas e caluniosas. Em nota, a assessoria informa que o assunto já foi tratado pela revista em outras ocasiões e que os ganhos da Projeto Consultoria e de Antonio Palocci estão “clara e transparentemente registrados e sempre informados às autoridades competentes.”
“São caluniosas e mentirosas as ilações e suspeitas buscando relacionar os serviços da empresa Projeto à aprovação de benefícios ao setor automotivo. Trata-se de um assunto que a revista já tratou em outras ocasiões e que já foi objeto de resposta da Projeto e da Caoa. Antonio Palocci está afastado da vida pública há mais de quatro anos e retomou as atividades empresariais nesse período, o que sempre foi público e notório”, diz a nota.
Segundo a nota, a reportagem não explica “que um único recebimento de valor na conta da empresa pode ser contabilizado várias vezes pelo Coaf como pagamento de despesas, dividendos para os sócios, aplicações financeiras, respectivos resgates etc. No período de 8 anos, como exemplo, um mesmo recurso pode ser regatado e aplicado várias vezes. Época prefere omitir tal fato para lançar suspeitas infundadas.”
Erenice
Erenice Guerra foi secretária-executiva da então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e sucedeu a chefe quando esta deixou o posto para concorrer à Presidência em 2010. Deixou o cargo após acusações de tráfico de influência envolvendo sua família no âmbito do ministério.
Segundo a “Época”, o escritório da ex-ministra recebeu R$ 12 milhões entre agosto de 2011 e abril de 2015. À revista Erenice afirmou que não fala com a imprensa. Procurada, a ex-ministra não foi localizada.
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