A Esquerda e os militares Data da Postagem: 27/04/2016

Os governos militares exerceram, no imaginário da extrema-esquerda brasileira, uma função análoga à que depois foi exercida pelo PSDB: “tese de plantão”. Explico: para o marxista, a posição “correta” (também dita “progressista”, devido à crença marxista na existência de um progresso histórico rumo a uma sociedade sem classes) não é definida por princípios e valores absolutos, mas por oposição à situação histórica de um dado momento. Para ele, a situação presente num dado momento é a “tese”, contra a qual ele, como “progressista”, levanta-se como “antítese”; deste embate surge uma “síntese”, situada à esquerda da “tese” mas ainda à direita da “antítese”. A “síntese”, por sua vez, passa imediatamente à condição de “tese”, contra a qual o “progressista” se coloca imediatamente antitético.

Os governos militares exerceram a função de tese, contra a qual a extrema-esquerda agia pela força (terrorismo, assaltos, sequestros, etc.). Na leitura marxista, deste embate surgiu uma nova situação mais à esquerda, que na mitologia da extrema-esquerda identifica-se com FHC. Contra este, os mesmíssimos seus amigos e companheiros de embate durante o governo militar colocaram-se imediatamente como suposta antítese. Deste embate, por sua vez, surgiu o governo petista, contra o qual se levantam como antíteses os partidecos mais radicais (PSTU, PSOL, PC do B, etc.).

Para pessoas normais, que não vejam o mundo pelos estranhos óculos dos marxistas, estes partidecos agem como linha auxiliar do PT, tal como o PT agia como linha auxiliar do PSDB. Para os marxistas, eles indubitavelmente fazem oposição. Isto decorre do fato de a posição marxista, o senso de certo e errado deles, não ser, como para as pessoas normais, algo baseado em valores absolutos. Assim, o que ontem era bom hoje é ruim, e — este é o ponto mais importante — o que anteontem era ruim hoje é péssimo. Tudo depende da situação política do momento, mas o “certo” é o que faz a História “avançar” rumo à famosa sociedade sem classes. Assim, qualquer perturbação que atrase a dancinha de tese-antítese-síntese é má, e qualquer ação que a adiante é boa. É por isso, por exemplo, que é comum no discurso da esquerda a condenação da caridade: mendigos enfurecidos e famélicos ganhariam mais facilmente consciência de classe e ajudariam a derrubar a burguesia, enquanto mendigos saciados por esmolas ficariam alienados por uma falsa consciência. Assim, seria antiético dar comida a quem tem fome! Uma amiga de extrema-esquerda me contou uma vez que ficou horrorizada quando viu, na Índia, que o representante local do Partido Comunista que a recebeu andava pisando nos pobrezinhos que dormiam na calçada. Ele não se desviava deles: pisava onde o pé caísse. Na verdade, é a mesmíssima mentalidade que faz com que aqui no Brasil eles não queiram que se dê esmolas.

Este medo do que eles percebem como “retrocesso”, que é a própria definição de mal para o marxista, é o que faz com que a percepção de realidade deles seja tão diversa da das pessoas normais ao interpretar a realidade política brasileira. Por exemplo, o processo de impeachment ora em curso é extremamente semelhante ao sofrido pelo Collor: as diferenças são a escala da corrupção — muito maior no caso petista — e o nível de participação da Globo, que só subiu no bonde deste impeachment quando não dava mais para ficar fora, enquanto no caso anterior chegou a usar todo o poder de sua dramaturgia para mandar à rua, com a cara pintada, a juventude ignorante.

Para o marxista, todavia, os dois não poderiam ser mais diferentes; é como o dia e a noite, o frio e o calor, o bem e o mal. O impeachment do Collor levava o País para a esquerda, para o “progresso”, portanto era bom. O fim, creem eles, justifica completa e perfeitamente os meios. Já o da Dilma não leva o País para a esquerda. Logo, por definição, ele é um “golpe”, no sentido mais profundo do termo: um golpe contra a História, contra o progresso. Para o marxista, é tão evidentemente errado haver um “retrocesso” no mecanismo de tese-antítese-síntese (pois é só assim que ele consegue perceber a realidade; tudo tem que ser reduzido a esta inanidade), que mesmo se a Dilma fosse flagrada sacrificando criancinhas (ou, pior ainda, beagles!) a Baal, ela deveria continuar no trono, que ela só pode legitimamente — é a Lei da História! — ceder para alguém à esquerda dela. Se fosse o Freixo a tocar o processo de impeachment, ele seria bom.

Como não é nem ele nem nenhum outro membro da “vanguarda do proletariado”, mas a população brasileira que vem arrastando atrás de si a mídia e os políticos, dá tela azul na cabeça dos marxistas, que só conseguem entender a situação como sendo um retrocesso… ao PSDB. Não importa que o PSDB só tenha entrado no movimento aos 47 minutos do segundo tempo; não importa que seus representantes tenham sido expulsos das manifestações; não importa nem mesmo que a possibilidade de participação do partido num futuro governo Temer ainda seja objeto de animados debates em seu interior: é — ou antes era — um “golpe tucano”. Retrocesso, por definição, é algo que acontece para o degrau anterior da escadinha, do petismo para o PSDBismo, “descendo” quando se deveria estar “subindo” para o PSTUzismo ou PSOLismo, próximo passo rumo ao paraíso, pela suposta lei da História.

E eis que o deputado Bolsonaro (que o corretor do LibreOffice quer transformar em “Savonarola”, vejam só!), com pouquíssimas palavras, conseguiu enlouquecer ainda mais o já mal calibrado radar político da extrema-esquerda, ao dedicar seu voto pró-impeachment ao Coronel Ustra. Para o Bolsonaro, valores não são relativos. Ele acredita ainda no que aprendeu nas Agulhas-Negras, e provavelmente morrerá acreditando na mesma coisa e da mesma forma, percebendo como certo ou errado o que ele percebia como certo ou errado aos vinte e cinco anos de idade, etc. Para ele, o Cel. Ustra serve como símbolo do combate à extrema-esquerda, o que ele percebe como um valor duradouro.

Ao dedicar o seu voto ao falecido coronel, contudo, o que o Bolsonaro fez foi substituir o improvável “golpe tucano” com que os marxistas tentavam entender a situação atual (a possibilidade de que a população odeie tudo o que a esquerda representa, é claro, não lhes passa pela cabeça) por um “vilão” mais antigo, logo automaticamente muito pior: os governos militares. Para a esquerda, as breves palavras do Bolsonaro tiveram o efeito de insuflar à resistência mais aguerrida, porque o que antes parecia ser um já trágico retrocesso de um degrau subitamente surgiu como um retrocesso de dois degraus, como a volta a um tempo em que o PSDB era uma alternativa antitética. Mutatis mutandis, na cabeça dos marxistas isto soa tão absurdo e criminoso quanto seria a transformação de homens modernos em cro-magnons ou neandertais. Não é de se estranhar que, no imaginário (sempre evolucionista, como vimos) da extrema-esquerda, os militares sejam tratados de “gorilas”: eles seriam uma etapa ultrapassada da “evolução” da sociedade, um horror já enterrado, mas que deve ser sempre mostrado e lamentado (daí as orwellianamente irônicas “Comissões da Verdade” perpetuamente tentando falsificar mais ainda a História, etc.). A bondade absoluta dos atuais detentores do poder viria justamente do fato de eles terem se levantado contra os governos militares, de eles terem sido a antítese daquela tese. Não importa que eles o tivessem feito visando transformar o Brasil em colônia da Albânia de Enver Hoxha ou horror semelhante: eles foram “paladinos da democracia” precisamente porque eles eram a antítese daquela tese, logo estavam do lado do progresso, do Bem e dos ursinhos carinhosos que nos levarão à terra sem males. “Democracia”, afinal, também é um termo tremendamente relativo no vocabulário marxista. Basta lembrar que na Guerra Fria os países comunistas eram facilmente reconhecíveis pelo fato de terem sempre a palavra “democrático” no nome. A “República Democrática da Alemanha” era a Alemanha comunista, enquanto a capitalista era “República Federal da Alemanha”, e por aí vai.

O que me preocupa na situação atual, todavia, não é que a extrema-esquerda fique fora de si e espumando verde. Graças ao bom Deus, eles não têm mais poder para fazer grandes males com toda a sua fúria. O que me preocupa é que, como resposta à indignação da esquerda com as palavras do Bolsonaro, haja muita gente boa conservadora caindo no engodo de achar que os governos militares foram uma coisa maravilhosa.
Não foram, não. Tanto o PSDB quanto o PT e todos os demais partidecos são filhos diretos dos governos militares. Foram os governos militares que levaram o Brasil para a esquerda, eliminaram toda e qualquer liderança conservadora e criaram — ou supervisionaram a criação de, o que para mim dá estritamente no mesmo — todo o sistema de deseducação marxista que levou às eleições de FHC e Lula. É compreensível que o Bolsonaro goste dos militares, mesmo por ter ele sido eleito pela primeira vez como uma espécie de representante sindical deles, mas seria extremamente perigoso procurar no que eles fizeram um caminho para o Brasil. Se a última vez em que eles subiram ao poder agarraram o osso por décadas além do combinado e quando o soltaram o entregaram para a mesmíssima corja de quem eles teoricamente teriam procurado nos defender, não quero nem pensar no que fariam agora. Não que haja alguma chance de ação militar, claro, a não ser que — mais uma vez, como consequência do acirramento dos ânimos, o que não foi em absolutamente nada ajudado pela transformação de um “golpe tucano” em “volta dos militares” no imaginário da extrema-esquerda — corra tanto sangue pelas ruas que eles sejam forçados à ação.

Eles são ótimos em mandar milhares de soldados para prender meia-dúzia de jornalistas brincando de guerrilheiros no Araguaia, incompetentes em combater terrorismo urbano (ou não teriam trocado dezenas de terroristas por embaixadores sequestrados por seus coleguinhas de maneira quase regular), e absoluta e completamente péssimos na manutenção ou reforma de um ambiente político decente.

Os governos militares foram governos tecnocráticos, ou seja, governos que partiam do pressuposto — compreensível nas casernas, mas absurdo no mundo real — de que a ordem social é um processo de engenharia, de ciências exatas, não de ciências humanas. A técnica era percebida por eles como superior à política, mostrando assim sobejamente que esqueceram o pouco Clausewitz que estudaram na Escola de Estado-Maior. Destarte, eles se aplicaram em obras de infraestrutura viária e energética — o componente de engenharia do progresso econômico –, sem investir, muito pelo contrário, no componente humano. A economia planificada, de molde quase socialista, dos governos militares, aumentou a concentração e oligopolização do grande capital a um grau que só o governo petista conseguiria ultrapassar, semeando ao mesmo tempo a hiperinflação que explodiria no incompetente governo Sarney (aliás presidente do partido de apoio aos governos militares por muitos anos). As universidades foram abandonadas à esquerda como cercadinho em que eles poderiam “brincar sem fazer muito estrago”, seguindo as teses absurdas do Gen. Golbery (que Gláuber Rocha chamou de “gênio da raça”, o que já deveria ser sinal de alerta suficiente), o que fez com que toda a educação brasileira passasse a ensinar o marxismo como se fosse um fato da natureza, enquanto a pesquisa séria e, mais importante ainda do ponto de vista econômico, a cooperação universidade-empresas praticamente desaparecia. O pior do pior do pentecostalismo norte-americano foi importado para “contrabalançar” a teologia da libertação, diminuindo tremendamente o poder de coesão social e guia moral da Igreja, já em crise por outras razões. A política representativa foi cortada pela base e sufocada, quase como um bonsai japonês, o que retirou completamente de cena as fortes vozes de direita ou conservadoras que inicialmente pediram e saudaram o contragolpe militar de 1964, permitindo e incentivando ao mesmo tempo que crescessem como que em estufas acadêmicas e sindicais as vozes de extrema-esquerda que assumiram o poder imediatamente depois da redemocratização do Brasil. Ao forçar, ainda, toda a participação da esquerda na política eletiva a ocorrer dentro de um só partido, o MDB, os militares fizeram com que pela primeira vez na História do país houvesse diálogo entre os diversos componentes da extrema-esquerda, e entre eles e a esquerda fabiana. Ao mesmo tempo, a reunião de uma vasta maioria de políticos corruptos e adesistas com uma ínfima minoria, já podada previamente por ciuminhos dos tecnocratas, de políticos verdadeiramente conservadores, ou mesmo direitistas, na Arena fez com que estas vozes fossem caladas por aquelas. Os Malufs substituíram os Lacerdas, para eterna vergonha do Brasil. A perda foi tão grande, que — não podemos esquecer — o próprio Brizola identificou perfeitamente na ascensão do PT uma espécie de nostalgia da UDN criminosamente destruída pelos governos militares.
A acusação mais comum aos governos militares no discurso da extrema-esquerda, contudo, acaba se revelando uma grande besteira para quem conheça História. Os militares são acusados, basicamente, de torturadores. “Militar = torturador”, no imaginário da extrema-esquerda brasileira. Ora, é outro ponto em que os militares enfiaram, sim os pés pelas mãos, mas o mesmo — exatamente o mesmo — fizeram todos os outros governantes, antes e depois deles. O erro maior deles foi de omissão, não ação.

Explico: na sociedade brasileira, culturalmente sempre foi preferido o castigo informal, no mais das vezes físico para os pobres e moral para o ricos. Melhor uma boa sova ou humilhação pública que ficar com o nome sujo; registros formais de um passado criminoso sempre foram considerados um mal muito maior que dentes quebrados ou um dia de vergonha. O nosso Código Penal, de 1940 — promulgado pelo mesmo Getúlio Vargas que a esquerda tanto ama –, bem como seu companheiro, o Código de Processo Penal, parte desta premissa e traz nas entrelinhas a promessa de violência policial. Assim como nunca se colocou no papel no Brasil a existência da escravidão até a Lei Áurea, e depois dela o próprio Rui Barbosa empenhou-se em eliminar ao máximo as evidências da sua existência, a violência policial sempre esteve implícita na legislação brasileira. O bandido, normalmente preto e pobre, sempre foi surrado, sempre foi torturado para contar o que sabia e para que a polícia chegasse a seus cúmplices. Estes, por sua vez, seriam torturados para entregar outros e devolver os bens roubados. Nada seria posto no papel, a não ser no caso daqueles que não se emendassem após miríades de surras, daqueles que não haviam sido e nunca seriam convencidos pelo medo do pau-de-arara a buscar uma vida honesta. É assim que a coisa sempre funcionou, e a sociedade sempre esteve muito satisfeita com isso, para nossa eterna vergonha.

Nos raríssimos casos de ser necessária a ação policial contra um cidadão de classe média ou alta, tampouco entraria em ação, na maior parte das vezes, o CPP. Em geral bastaria levá-lo algemado em público a pé pelas ruas da cidade como punição.

Os militares, ao tomar o poder, poderiam e deveriam ter procurado dar um jeito nesta situação, corrigindo os códigos e dotando as polícias de meios intelectuais e físicos de investigação civilizada. Como eles não precisavam de apoios políticos, ter-lhes-ia sido possível. O que fizeram, contudo, foi simplesmente deixar a polícia agir como sempre agiu e estender, democraticamente, à classe média o tratamento que antes era apanágio de pretos, pobres e prostitutas. Quando filhos da classe média urbana, sob o pretexto da “luta armada” de extrema-esquerda, começaram a assaltar bancos, sequestrar e outras ações que antes não se imaginava que meninos de boa família pudessem cometer, os militares simplesmente permitiram que a polícia investigasse e tratasse estes crimes como investigava e tratava todos os outros. Nas imortais palavras do sambista, “vou dar um pau nas piranhas lá fora; vocês vão ver, elas vão ter que entregar”.

As famigeradas “torturas dos militares”, assim, são curiosamente não apenas algo que não é nem nunca foi invenção deles, pois eles simplesmente permitiram que continuasse algo, como se trata de uma acusação que deixa de lado o ponto principal: eles são culpados apenas de terem democratizado o que se fazia anteriormente apenas aos mais desvalidos ao invés de ter civilizado os mecanismos de investigação e punição desde sempre empregados pela polícia brasileira. No governo dos militares todo criminoso, assaltante ou sequestrador apanhava igual, fosse ele um menino de classe média branca e rica atrás de dinheiro para implantar a ditadura do proletariado ou um preto pobre que quisesse comprar jóias para as namoradas.

Aliás, esta (outra!) imbecilidade militar levou-os a prender juntos os terroristas e os criminosos comuns, fazendo com que aqueles “educassem” estes e os levassem a criar as gangues que hoje dominam o tráfico de drogas no Brasil. O Comando Vermelho é “vermelho” em homenagem assumida aos seus inspiradores, os professores comunistas que ensinaram técnicas de guerrilha e de organização aos criminosos comuns presos no Presídio da Ilha Grande.

Quando da redemocratização, tornou-se novamente impossível corrigir a situação penal e processual penal brasileira, pois qualquer modificação mexeria em tantos interesses estabelecidos que se tornaria politicamente impossível. Há coisas que só um ditador pode fazer a contento, e reformas de base são uma delas. O que foi feito pelo mesmíssimo pessoal que, pela primeira vez, deixara o próprio sangue de branco rico nos paus-de-arara das delegacias foi aparecer com os Direitos Humanos e proibir o que era a única forma de punição realmente prevista na legislação brasileira, ainda que nas entrelinhas. Na prática, o que eles fizeram foi tornar o crime comum praticamente impunível.

Com isso, somado ao controle de território deliberadamente permitido às gangues pelas administrações estaduais de extrema-esquerda (Brizola proibiu as polícias fluminenses de entrar em favelas, por exemplo) e ao desarmamento das vítimas levado a cabo pelo mesmo pessoal que “pegou em armas contra a ditadura” para implantar outra ditadura, a criminalidade comum explodiu, subindo sem parar. Hoje temos mais de sessenta mil homicídios por ano, e enormes áreas de todas as nossas megalópoles são proibidas a pessoas de bem, especialmente às mulheres. Viciados em crack vagam como zumbis pelas cidades, vivendo de roubos e furtos. Os campi universitários são lugares de estupros frequentes.

Tudo isso, direta ou indiretamente, também está na conta de quem poderia ter feito algo, e não fez: os militares. É por isto tudo que eu realmente não vejo com bons olhos este endeusamento daqueles governos. Eles não deram em nada de bom. Eles são os pais disso tudo que está aí.
E olha que eu nem falei da Proclamação da República!
 
  Carlos Ramalhete 
Professor de filosofia e funcionário público, Carlos Ramalhete, escreve semanalmente na editoria de Opinião do jornal paranaense Gazeta do Povo e foi um dos pioneiros a fazer apologética católica em meios eletrônicos e digitais, no Brasil. 

Comentários